O Fórum Feicorte abriu a programação do primeiro dia do evento com temas estratégicos para o futuro da pecuária, entre eles sucessão, retorno econômico e tendências do mercado. Mediando o painel, a zootecnista e pesquisadora do Instituto de Zootecnia, Renata Branco, destacou a relevância das discussões. “Nosso objetivo é impulsionar o crescimento sustentável da família agropecuária, fortalecendo as bases do setor para as próximas gerações”.
O tema “Sucessão e legado” foi debatido pelo presidente do Conselho de Administração da Jacto, fundador e presidente do Instituto de Desenvolvimento Familiar, Chieko Nishimura (IDF), e pelo membro do Conselho Curador da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, Jorge Nishimura, que compartilhou sua experiência destacando a importância da sucessão e do legado nas empresas familiares.
Para ele, “o sucesso verdadeiro só é alcançado quando é transmitido por três gerações”. Isso porque menos de 10% das empresas familiares no Brasil conseguem chegar à terceira geração, o que representa um grande desafio para a economia do país e as relações familiares.
“Para superar esse obstáculo, as famílias devem pensar em longo prazo, considerando as necessidades e expectativas das próximas gerações. Além disso, é imprescindível fortalecer a importância da governança corporativa e da estruturação da empresa”, afirmou Nishimura.
O papel da pecuária na sociedade
O zootecnista e consultor técnico em sistemas produtivos de pecuária de corte, pastagem e nutrição, Marco Gambale, ministrou a palestra “O boi que paga a conta”, na qual destacou o papel fundamental da pecuária não apenas na economia, mas também no desenvolvimento sustentável e na paz mundial.
Gambale abordou a importância de entender os ciclos da pecuária para garantir a sustentabilidade do setor. “A pecuária vive de ciclos. Quem não compreende isso, não sobrevive”, afirmou, ressaltando que muitas propriedades deixaram a atividade por não suportarem períodos de baixa rentabilidade. Entre os pontos levantados, ele destacou a necessidade de superar o trabalho com médias. “A média nos traz conforto, mas também mascara ineficiências. Precisamos identificar os animais que realmente entregam resultados e aqueles que estão ‘roubando’ o lucro”.
Uma das ferramentas utilizadas por Gambale como exemplo foi o uso da ultrassonografia de carcaça para medir a área de olho de lombo (AOL), um indicador-chave de desempenho. Segundo ele, a AOL está diretamente relacionada à eficiência dos animais em conversão alimentar e ao ganho de carcaça. “A cada 10 centímetros a mais de área de olho de lombo, conseguimos 100 gramas adicionais de carcaça no confinamento e 110 gramas no ganho de peso na recria”, disse.
Na ocasião, Gambale também apresentou um experimento realizado em parceria com uma propriedade de gado de corte, no qual bezerros foram classificados pela AOL ao desmame. Os resultados mostraram que animais com maior AOL apresentaram desempenho superior durante todo o ciclo produtivo. “Precisamos priorizar a seleção de animais com melhores características de carcaça e eficiência alimentar. Isso não só aumenta a rentabilidade, mas também reduz o impacto ambiental da produção”, argumentou.
Segundo Gambale, a tecnologia e a eficiência são fundamentais para enfrentar os desafios do setor e garantir sua sustentabilidade no futuro. “Se entendermos que a eficiência é a base do sucesso, a pecuária brasileira continuará a crescer, fortalecendo sua posição no mercado global e contribuindo para o desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Gestão de precisão
Para uma gestão correta, além dos já conhecidos planejamento, execução, aferição, ajuste, agilidade, controle e precaução, a pecuária conta com um indispensável instrumento de predição que não pode mais ser ignorado: a avaliação e seleção por ultrassonografia de carcaça. “Em um passo à frente, com a incorporação dessa ferramenta disruptiva, a gestão da precisão é acrescida de predição do resultado possível, otimizando potencial e eliminando desperdício”, explicou o pecuarista e presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Velloso, que apresentou palestra sobre “Tendências para a pecuária brasileira”.
Ao abordar nutrição, o especialista explicou que esta é uma variável responsável por boa parte do custo total de produção de bovinos, representando entre 40% e 90%. Essa condição faz com que, a qualquer escolha equivocada, a margem diminua ou desapareça. “Portanto, a palavra de ordem aqui é ‘nutrição estratégica’, exigindo do pecuarista que a história futura de cada animal seja contada antes. Com começo, meio e fim”, complementou.
Na integração, o custo de pastagem ‘está assustador’. “No entanto, ainda mais assustador é mantermos o rebanho em uma pastagem ‘meia boca’, onde o GMD (ganho médio diário) é irrisório, incapaz de fazer frente ao custo diário. Afinal, hoje, mais do que nunca, pecuária é giro”, contou Velloso. Sendo assim, a melhor receita para imprimir fertilidade ao solo na busca de uma pastagem produtiva é por meio da integração com a lavoura, lavra própria ou via arrendamento.
A diferença obtida é alta, com produtividade facilmente ultrapassando os 500% de incremento. Esse princípio é um dos pilares da economia circular aplicada à produção pecuária.
“Como qualquer outro cultivo que se pretenda produtivo, a pastagem deve ser implantada e conduzida rigorosamente, em obediência às recomendações técnicas, como análise de solo, escolha das melhores sementes, inseticidas, herbicidas, cobertura. Ou seja, toda a técnica que garanta a correta implantação da forrageira, de forma a garantir produtividade longeva”, disse.
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